comecei hoje a fazer uma oficina de poesia – cheguei tarde, ‘pra variar’. (inclusive, divagando como sempre, lembro que minha mãe dizia que eu havia puxado isso de meu avô, disse ela que ele nunca havia pegado um trem parado, chegava sempre atrasado na estação e tinha que embarcar correndo, primeiro jogava as malas, depois se alçava na cabine.) seja como for deu certo e adorei começar um novo grupo de gentes em torno de algo.
gosto disso de fazer oficinas porque isso me impele a escrever as coisas. escrevi “retalho, rebotalho” por causa do curso de dramaturgia do dragão do mar; escrevi “a matriarca encarcerada” por causa do percurso de dramaturgia no porto iracema das artes. participei de várias coletâneas de contos por causa do ateliê de narrativas da minha querida socorro acioli. e agora me reuni a um grupo em uma oficina de poesia com carlos augusto lima. e só de começar a falar sobre poesia – e também porque tem as tarefas de casa, claro, adoro! – já me faz pensar em escrever poemas.
(por isso vou deixar aqui já guardada uma proposta para a tarefa de casa: escrever um poema sobre o poema.)
poema da oficina
minha escrita é um carro velho
que vive enguiçando
motor dando prego
por isso busco as oficinas
só de ouvir os mestres falando
exibindo as ferramentas
a ideia já pega no tranco
a peça de teatro escorre do título
o romance nasce dum desafio
autoinfligido
os contos se sucedem e contam pontos
e assim do nada, de repente,
um poema se joga na frente
(ou então ele se senta à beira
da estrada e cruza as pernas
ao meio-fio)
e se mostra seminu nas fotos
do calendário na parede
sujo de graxa, o poema
bacia cheia d’água com a câmara de ar
de um pneu furado
eis que estou em uma oficina
excelente ideia
e o poema é um passat amassado
um palio estacionado há décadas
empoeirado
acho que o poema é sempre algo velho
ou então uma sina
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